quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A casa


Aqui na casa. A tua casa. A nossa casa.
A casa dos meus amigos. A casa de quem amo.
Aqui haverá sempre camas para todos. Jantar e pequeno-almoço.
Um beijo antes de partires e um abraço ao chegares.
Aqui haverá sempre alguém esperando por ti. Haverá sempre alguém que se lembrará como estarás. Se teu estômago estará confortado, se precisarás de mais uma manta.

Aqui na tua casa o meu amor te espera e te acompanha.
Aqui haverá sempre um ombro um amigo onde possas chorar a tua dor.
Há flores nos recantos. As flores estão. Tu dissolves o perfume pelo ar.
As lembranças ficam e tu baloiças com elas no vento do tempo.

Deixo-me levar pelo curso natural da vida. Observas qual espectador. De ti, de mim, dos outros, do teatro encenado no grande palco da vida por quem desconheces.
Vivendo na reflexão da observação. Como se não tentasse outra visão da tremenda imensidão da solidão vou ficando, procurando um guarda-chuva para me abrigar desta chuva irracional de Verão.
As horas e os minutos sobrepõem-se na extensão pesada da lista dos dias.
Sonhado na mística luz dourada com meu anseio por um céu iluminado de estrelas.

A ti, para ti e por ti. Para sempre a ti. Meu amigo, meu coração, cheio de... tantas coisas... mas nunca de ti!

Oxalá!


(Oxalá não te entristeça meu fado, meu astro signo real)


…a noite clara intensifica a atmosfera morna. Eles chegaram. Os cães não ladraram.

Eu tinha visto o sinal.

Não há móveis, apenas pesadas penas imóveis.

Hão-de vir mais tarde. Por agora a casa está despida de pensamentos, conjecturas e aspirações.

A limpeza prossegue, é preciso renovar o ar deixado pelos móveis antigos outrora erguidos sobre largas raízes.

Ainda cheira a tralha.

Deixa as janelas abrirem-se.

Um silêncio que grita ecoa na sala vazia.

Deixa que a escuridão a invada com seus fantasmas nocturnos e pede-lhes que se diluam no medo de mil vozes de mil livros.

Estão falando todos ao mesmo tempo com igual vigor e eloquência.

Os cicerones enviados pela lua saberão guiar cada voz ao seu reino original, onde cada uma delas se transformará numa voz brilhante então devolvida á sua orquestra celestial.